sexta-feira, 12 de março de 2010

Sobre revoluções e sutiãs...

Ação de operárias russas em 1917 que derrubou a monarquia e originou o Dia Internacional da Mulher


Muitos atribuem o surgimento do Dia Internacional da Mulher à repressão sofrida por um grupo de 129 operárias que, em 8 de Março de 1857, em Nova Iorque, teriam provocado uma greve e sido vítimas de um incêndio criminoso dentro da fábrica têxtil em que trabalhavam. Elas reivindicavam a redução das 16 horas de trabalho diárias para 10 horas, além de melhores salários - elas recebiam menos de um terço do salário dos homens. Entretanto, estudiosos afirmam - e possuem provas documentais - que este incidente ocorreu apenas em 25 de Março de 1911. O prédio de três andares onde funcionava a fábrica era de madeira e o fogo teria se espalhado rapidamente, matando 146 pessoas, das quais 125 mulheres.

Conforme diz a jornalista e mestranda em Ciência Política da PUC-SP, Maíra Kubík Mano, "o 8 de Março foi fruto do acúmulo de mobilizações no começo do século passado". Diversas outras datas marcaram protestos e comemorações ligadas ao Dia da Mulher pelo mundo.

Um movimento significativo ocorreu nos Estados Unidos, aos 3 de maio de 1908, quando 1.500 mulheres se organizaram para reivindicar igualdade econômica e política no dia consagrado à causa das trabalhadoras. No ano seguinte, a data escolhida pelo partido socialista para uma comemoração foi a de 28 de fevereiro, que reuniu cerca de 3 mil pessoas em pleno centro da Nova Iorque, na ilha de Manhattan. Os ideais atravessaram o Atlântico e chegaram à  Europa. Foi de lá que surgiu a semente da criação de um Dia Internacional da Mulher, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres, realizada em Copenhague, na Dinamarca, em 1910. Clara Zetkin, militante e intelectual alemã, foi um nome importante naquele contexto.
Incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist Company, em 25 de março de 1911, 
 popularmente tido como marco do Dia da Mulher


Em 8 de março de 1917 foi a vez da Rússia. Operárias realizaram uma ação política contra a fome, contra o czar Nicolau II e a participação do país na Primeira Guerra Mundial. Esse episódio desencadeou uma revolução. O líder Leon Trotsky registrou assim esse evento: “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução”. Tudo isso desencadeou a derrocada da monarquia no país.

Como apresenta a pesquisadora canadense Renée Coté, o dia 8 de Março foi definitivamente estabelecido em 1921. Em documentos da Conferência Internacional das Mulheres Comunistas constam referências à "camarada búlgara que propôs o Dia Internacional da Mulher, lembrando a iniciativa das mulheres russas”. Mas com as Guerras Mundiais a data permaneceu em um quase esquecimento até os anos 60, quando o movimento feminista tomou corpo, principalmente após o episódio que ficou conhecido como a "queima - ou fogueira - de sutiãs". No dia 7 de Setembro de 1968, como um ato de libertação, mulheres protestaram - durante o concurso de Miss America, nos Estados Unidos - contra o padrão estético imposto, saindo às ruas de Atlantic City levando símbolos femininos, como o sutiã.


1968, Atlantic City, mulheres tiram os sutiãs em forma de protesto ao
padrão de beleza imposto pelo concurso de Miss America

Depois de tanta história um questionamento é válido: Um século depois, o que de fato mudou? As mulheres conquistaram seus direitos? Hoje homem e mulher têm o mesmo peso diante da sociedade? O que já foi alcançado? O que falta melhorar? Algumas situações colocadas abaixo nos fazem pensar. De Amélia a Pagú, onde estão as mulheres de hoje, e quais seus ideais (o que querem)? Deixe seu comentário.


E na semana do Dia Internacional da Mulher...


"A pré-candidata do PT à Presidência da República nas eleições de outubro, Dilma Rousseff, defendeu hoje que o cargo seja ocupado por uma mulher. 'Sempre me perguntam se uma mulher está preparada para ser presidente. O Brasil está preparado para ter uma mulher presidente e as mulheres, em geral, estão preparadas para isso', afirmou. "
Jornal “O Globo” – 09/03/2010



Cai diferença de jornada entre homens e mulheres, diz IBGE
Mesmo com avanço da escolaridade, diferença de renda persiste em cerca de 30%
Jornal “Folha de São Paulo” - 09/03/2010


Conquistas das mulheres, por Nilcéa Freire*

A igualdade entre homens e mulheres é um processo em permanente construção. O movimento feminista deu visibilidade à luta contra o sexismo, questionando a inferiorização e a subordinação das mulheres. Agora, o desafio é garantir que direitos fundamentais sejam integralmente vividos e partilhados por todas. Discussões sobre o aumento da licença-maternidade (e da licença- paternidade ou parental) e a adoção de ações afirmativas de gênero estão sendo travadas e devem ser consideradas em conjunto pelos governantes e pela sociedade civil como políticas vitais para garantir condições dereprodução da vida.
[...]
Uma poderosa narrativa de desconstrução das desigualdades históricas entre homens e mulheres está se constituindo a partir da denúncia da invisibilidade do trabalho das mulheres no espaço doméstico e do questionamento da sua posição secundária na sociedade. A equidade de gênero tornou-se questão de Estado, e a formulação das políticas para sua conquista conta com ampla participação social. O princípio de igualdade entre homens e mulheres deve ser compartilhado por toda a sociedade e exige a participação de todos e todas em um permanente exercício de respeito à alteridade ede construção da cidadania.
*Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
Jornal “Diário Catarinense” – 11/03/2010


"Goiânia é palco de um crime passional às vésperas do Dia Internacional da Mulher. O vigilante e instrutor de tiros, Marcos Gomes Cruz, no dia em que completava 45 anos, assassinou com um tiro abaixo da clavícula a ex-companheira, a empresária Eliana Maria Borges, 43. [...] Segundo pessoas ligadas à vitima, Marcos e Eliana mantinham um relacionamento que terminou há cerca de um mês."
Jornal “Diário da Manhã” – 08/03/2010


Pela primeira vez uma mulher ganha o Oscar de melhor direção
Kathryn Bigelow ganhou o prêmio por 'Guerra ao Terror'.
Ela concorreu com o ex-marido James Cameron, diretor de "Avatar".
G1.com.br - 08/03/10


"Ver uma mulher no topo do organograma de uma empresa no País é algo ainda raro. Pesquisa realizada pelo Insper (antigo Ibmec) em 370 companhias de vários portes mostra que elas são as presidentes ou diretoras gerais em 8% dos casos. E, quando a companhia possui um conselho de administração, as chances de uma mulher ocupar o cargo mais alto são ainda menores, observa o levantamento. Nesse universo, a taxa cai para 5%."
Jornal "O Estado de São Paulo" - 11/03/2010


(Publicado por Taynara Borges)

3 comentários:

  1. Talvez, no tal dia 8 de março, pouco temos á comemorar. Não precisariamos de fato termos um dia específico no decorrer do ano, pois se trata de uma luta diária: na defensiva dos "malandros" dos onibus que tem obsessão por bundas e que talvez nem saibam de fato o verdadeiro valor do sujeito feminino, na busca por "igualdade" (no sentido mais amplo da palavra) de remuneração, de direitos, e blá blá blá... E quanto a rosa que muitas de nós recebemos no "nosso dia", me parece bastante sarcástica e irônica..

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  2. Acho que há muito o que conquistar ainda. Isso está bem exemplificado na matéria do Estado de São Paulo. A sociedade ainda é dirigida pela maioria masculina e um dia no ano não muda em nada isso. Ajuda a nos lembrar que a nossa posição já foi muito pior que a de hoje, mas essa história de igualdade dos direitos ainda não existe totalmente. O que eu mais ouvi das minhas amigas no dia 8 de março foram risadas irônicas e resmungos sobre a inutilidade do dia. Nem é feriado e a maioria nem ganha presente, no máximo uma rosa (nem é um buquê!).
    Por enquanto é só, dps comento mais. :*

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  3. Acho importante ter um "dia especial" sim. Apesar de não ser feriado, de não recebermos presentes e de não termos mais do que 24 horas, é uma data importante pois lembra todas as conquistas que as mulheres que nos antecederam conquistaram para nós. Hoje em dia quando votamos, quando vamos trabalhar, quando saímos de licença maternidade, não pensamos em quanto foi difícil conquistar esses direitos. Nascemos em uma época muito mais fácil - porém não totalmente - para as mulheres. Não somos "iguais" aos homens no mercado de trabalho e perante à lei ainda, mas já conquistamos tantas coisas que é preciso sim ter uma data para lembrar todas as mulheres que lutaram por nós. Afinal, se não fosse por elas, nós nem teríamos o direito de estar na sala de aula de uma Universidade discutindo o nosso corpo!

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