terça-feira, 27 de abril de 2010

Por Marielle Sant’Ana


Edgar Franco é um artista multimídia e tem experimentado criar trabalhos para suportes hipermidiáticos, batizando essa linguagem híbrida de quadrinhos e hipermídia de “HQtrônicas”(histórias em quadrinhos eletrônicas), cuja pesquisa foi desenvolvida em seu mestrado. Um de seus trabalhos intitulado “NeoMaso Prometeu”, recebeu menção honrosa no 13º Videobrasil – Festival Internacional de Arte Eletrônica (Sesc Pompéia/2001). Sua pesquisa de doutorado “Perspectivas pós-humanas nas ciberartes” foi premiada no programa "Rumos Pesquisa 2003" do Centro Itaú Cultural, em São Paulo.
Para entendermos o pós-humano e o entrelaçamento deste tema com a arte, segue a entrevista concedida, via correio eletrônico, pelo professor e artista Edgar Franco:

Marielle Sant’Ana: O conceito do termo ‘humano’ remete-se ao próprio homem enquanto ser biológico. ‘Pós-humano’ refere-se a algo além do humano, isto é, a extensão da natureza, o homem, em junção com a tecnologia, a máquina. Como surgiu o seu interesse pelo pós-humano na arte?
Edgar Franco: O termo pós-humano é motivo de muitas controvérsias e definições diversas. A compartimentação e corporativismo das áreas acadêmicas acabam por gerar muitas visões divergentes sobre o que pode vir a ser o pós-humano. Na verdade, o termo foi inventado pelo intelectual norte-americano de ascendência egípcia Ihab Hassan em um ensaio publicado em 1977 na Georgia Review intitulado Prometeus as Performer: Toward a Posthumanist Culture. O autor acreditava que esse neologismo poderia ser usado como mais uma "imagem do recorrente ódio do homem por si mesmo". A definição de pós-humano que mais me interessa é a que trata de uma possível ruptura na compreensão tradicional do que consideramos "humano" a partir das mudanças de ordem física e cognitiva que os processos hipertecnológicos - como biotecnologia, nanorobótica, nanoengenharia, prostética, conexão em rede, robótica e realidade virtual - estão produzindo em nossa espécie e de uma perspectiva de aceleração dessas mudanças.
As artes narrativas tradicionalmente já discutem a hibridação do humano desde o início da expansão tecnocientífica. O primeiro romance de ficção científica da história, Frankenstein, da autora inglesa Mary Shelley, já tratava da criação de um ser que mixava partes de muitos outros humanos para sua criação, e era um produto da ciência. Talvez esse seja um dos precursores da concepção atual de pós-humano. No cinema, monstros híbridos humanimais ficaram notórios também, como nas adaptações do célebre romance "A Ilha do Dr. Moreau" de H.G. Wells, um trabalho fenomenal que antecipou experimentos recentes da tecnociência como a criação da primeira ovelha transgênica que inclui 15% de genética humana.
Enfim, acho que o meu interesse pelo universo do pós-humano nas artes vem da infância, desde quando comecei a fascinar-me pela literatura, HQ e cinema de FC (Ficção Científica). Mas não é só nas artes narrativas que o pós-humano tem gerado trabalhos contundentes, também artistas da chamada ciberarte têm utilizado inclusive de tecnologias como transgenia e robótica para fazerem reflexões sobre a condição pós-humana, como Stelarc que implantou uma terceira orelha em seu braço esquerdo, e Eduardo Kac que produziu uma coelha transgênica fluorescente e objetivava transformá-la em seu animal de estimação.
Sou adepto da ideia de que os artistas funcionam como "antenas da raça" - uma concepção do genial teórico da comunicação canadense McLuhan - ou seja, os artistas têm essa capacidade de vislumbrar o porvir e esse é um dos papéis fundamentais da arte no seio da cultura ocidental. Infelizmente, poucos compreendem essa importância seminal da arte e ela continua sendo vista como "adereço" pela maioria dos setores da sociedade. E não confundamos aqui cultura de massa, feita para alimentar a indústria do entretenimento com arte.
                             Edgar Franco em foto para o projeto musical Posthuman Tantra

MS: Quadrinhos como o ByoCiberDrama e Transessência, além do projeto musical da banda Posthuman Tantra são alguns de suas manifestações artísticas que se inspiram no pós-humano. De que forma este conceito estrutura sua arte?                               
EF: Minha obra multimidiática tem sido estruturada, desde 2000, sob o leque de um universo ficcional transmídia chamado de "Aurora Pós-humana". Esse mundo de ficção científica evoluiu muito no período de minha pesquisa de doutorado em artes na USP e foi inspirado pelos artistas, cientistas, tecnólogos e filósofos que refletem sobre o futuro da espécie humana a partir de suas relações com os processos de aceleração hipertecnológica. Também sou influenciado pelos reflexos do pós-humano na cultura pop, com o surgimento de filmes, animações, etc., e de seitas como a dos Extropianos, Transhumanistas, Prometeianos e Raelianos. Estes últimos, por exemplo, crêem na clonagem como possibilidade de acesso à vida eterna, nos alimentos transgênicos como responsáveis futuros pelo fim da fome no planeta, e na nanotecnologia e robótica como panacéia que eliminará o trabalho humano, liderados pelo pseudo-guru Raël, um hedonista que constrói todo seu discurso a partir das previsões mais otimistas da ciência.            

 Nesse caldo fervilhante de polêmicas, previsões e vivências, surgiu, ainda no ano de 2000, o germe desse universo poético-ficcional que posteriormente batizei de "Aurora Pós-humana". A idéia inicial foi imaginar um futuro, não muito distante, onde a maioria das proposições da ciência & tecnologia de ponta fossem uma realidade trivial, e a raça humana já tivesse passado por uma ruptura brusca de valores, de forma (física) e conteúdo (ideológico/religioso/social/cultural). Esse universo foi batizado inicialmente de "Aurora Biocibertecnológica"; um futuro em que a transferência da consciência humana para chips de computador fosse algo possível e cotidiano, onde milhares de pessoas abandonarão seus corpos orgânicos por novas interfaces robóticas. Imaginei também que neste futuro hipotético a bioengenharia teria avançado tanto que permitisse a hibridização genética entre humanos e animais, gerando infinitas possibilidades de mixagem antropomórfica, seres que em suas características físicas remetem-nos imediatamente às quimeras mitológicas. Finalmente imaginei que estas duas "espécies" pós-humanas tornaram-se culturas antagônicas e hegemônicas disputando o poder em cidades-estado ao redor do globo enquanto uma pequena parcela da população, uma casta oprimida e em vias de extinção, insiste em preservar as características humanas, resistindo às mudanças.                                                                                                                                                                    

Dessas três raças que convivem nesse planeta Terra futuro, duas são, o que podemos dizer, pós-humanas, sendo elas os "Extropianos" (seres abiológicos, resultado do upload da consciência para chips de computador) e os "Tecnogenéticos" (seres híbridos de humano e animal, frutos do avanço da biotecnologia e nanoengenharia). Tanto Extropianos, quanto Tecnogenéticos contam com o auxílio respectivamente de "Golens de Silício" – robôs com inteligência artificial avançada (alguns reivindicam a igualdade perante as outras raças) e "Golens Orgânicos" – robôs biológicos, serventes dos Tecnogenéticos. A última raça presente nesse contexto é a dos "Resistentes", seres humanos no "sentido tradicional", raça em extinção, correspondendo a menos de 5% da população do planeta.

      
 Ilustração por Edgar Franco

                Este universo tem sido aos poucos detalhado com dezenas de parâmetros e características. Trata-se de um work in progress que toma como base todas as prospecções da ciência e das artes de ponta para reestruturar seus parâmetros. A partir dele já foram desenvolvidos uma série de trabalhos artísticos, em diversas mídias e suportes, atualmente outras obras estão em andamento.“ByoCiberDrama" é um álbum de quadrinhos que traz a história de um resistente. Ainda nos quadrinhos tenho a série de gibis "Artlectos e Pós-humanos", com HQs curtas que se passam no contexto de meu universo ficcional. O terceiro número, lançado em 2009, recebeu o Troféu Bigorna de melhor publicação Brasileira de Quadrinhos de aventura. No campo das narrativas híbridas, tenho as HQtrônicas (HQs eletrônicas), "Neomaso Prometeu" (Menção honrosa no 13º Festival Videobrasil), "Ariadne e o Labirinto Pós-humano" e "brinGuedoTeCA 2.0". No campo da web arte, tenho o site de vida artificial "O Mito Ômega" (www.mitomega.com), trabalho a série de ilustrações híbridas chamada de "A Era Pós-humana". Criei no ano passado a instalação interativa "Immobile Art" e, finalmente, tenho o projeto musical sci-fi ambient "Posthuman Tantra" que é contratado da gravadora Suíça Legatus Records e estará lançando nesse ano seu segundo CD oficial. Todos esses trabalhos envolvem aspectos diferenciados do universo ficcional da "Aurora Pós-humana".


*Edgar Franco é arquiteto pela UnB (Universidade de Brasília); Mestre em Multimeios pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Doutor em Artes Plásticas pela ECA/USP; e professor da FAV- UFG - Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia.

sábado, 24 de abril de 2010

Tecnologia Corpus Christi



Nosso corpo moldado em argila e baseado em uma imagem original não é suficientemente belo.  
Historicamente vamos mudando nossas concepções de beleza do corpo, o culto ao modelo corpóreo perfeito em cada época. Já experimentamos ser gordos, esconder os joelhos, comprimir pés, comprimir a cintura, peitos pequenos. Atualmente estamos partindo de um modelo de secura anoréxica para o modelo fitness, com o forte e plausível argumento de buscar a saúde e o bem-estar.

Para corporificar essa saúde, nos submetemos a uma série de aparelhos para tonificar, tornear, enrijecer, moldar, alinhar e projetar o corpo. É assim que o doente vai ficar sarado!

Agregando definitivamente essa tecnologia para a rotina, podemos “levar a academia para dentro de casa”, seguindo o estilo estadunidense de casa do Inspetor Bugiganga. Dentre os aparelhos e acessórios anunciados nas mídias, sobretudo TV, destacam-se:

Eletroestimulador Abdominal
(recorrência de veiculação equivalente a um nível “Câmera Digital Tek Pix” e “Iogurteira Top Therm” de irritação).








Iron Fitness Pro
Grátis: Talk Gold + Livro
Atua em 10 grupos musculares do seu corpo. Você consegue queimar calorias em 15 minutos de exercícios por dia.



Lift'n Shape
Diminua até três números do seu manequim na hora!


 



 (No caso da modelo devido ao estufa-encolhe parece ter reduzido 5 números.)








Chega a ser contraditório, ao mesmo tempo que o aparelho promete fazer de tudo, ser um “programa completo de saúde”, ainda não demonstra ser suficiente, uma vez que da mesma marca também há outros tipos de aparelhos que “fazem de tudo”. Esse é o mercado de aparelhos e acessórios para curar/sarar ou mesmo disfarçar o corpo.

O que você pensa sobre o consumo desses aparelhos que se mostram razoavelmente compactos e acessíveis, chegando cada vez mais ao interior dos lares? E esses acessórios disfarçadores, forjando o corpo rijo?
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Esse internauta posta vídeos ensinando, ao menos é o que diz, a malhar em casa:



hahaha.
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Paulenio Albuquerque

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tendência da estação


Meninas, o inverno se aproxima. É hora de tirar as meias da gaveta, as sandálias também. Isso mesmo! A tendência em alta da estação é a meia ¾ com sandália de salto. Febre nas passarelas das semanas de moda de Paris, Nova York, Milão e São Paulo, a nova onda se espalhou pelo mundo e ganha cada vez mais adeptas.


Mas, atenção! Você, gordinha e/ou de pernas mais grossas que as lindas modelos de passarela, não pode usar qualquer combinação. Para dar a impressão de pernas alongadas, semelhantes aos padrões de medida estabelecidos pela moda, recomenda-se o uso de meias e sandálias da mesma cor.

Já você, de idade avançada e aspirante a jovem descolada. Cuidado! Seu comportamento é deselegante, pois só as mais novas têm atitude para segurar um visual tão moderno. A forma mais adequada de se apresentar de acordo com o vestuário discreto exigido das mais velhas é apostar nos acessórios de cor preta, somente preta.


Agora, você: jovem, moderna, magra, alta, de pernas finas (uma verdadeira modelo), sinta-se superior, seu tipo físico é o ideal. Nem precisa esconder nenhum defeito de proporção física e adequação estética. Você é perfeita! Todos deviam ser assim, contemplados com a beleza em voga nas passarelas, aí poderiam usar sem disfarces as tendências da estação.

Releitura de um discurso formado por especialistas de moda e, portanto, agenciadores de um código de beleza e corpo femininos hegemônicos.
Fonte: GNT Estilo
Nathália Carneiro


UPDATE
Saia justa: a moda é você quem faz?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A coisa tá preta!

(Espero que esse post não fique um “serviço de preto”, pois pesquisei bastante e não estou fazendo nada nas “coxas”).

Em plena quarta-feira, feriado, e eu aqui escrevendo no blog da turma, mas bem feito pra mim, “quem mandou” me inscrever na disciplina de comunicação, corpo e consumo. Enfim, como para mim todo dia é “dia de preto”, vamos ao que interessa.



O assunto é racismo e para deixar tudo “preto no branco”, vamos “esclarecer” algumas coisas. “Racismo é a teoria que afirma a superioridade de certas raças e nela assenta à defesa do direito de dominar ou mesmo suprimir as outras.”

Mas aqui no Brasil não existe racismo, somos todos iguais, e por aqui todo mundo respeita os negros, pois eles são verdadeiros “pretos de alma branca”. E os brancos todos de “sangue azul”, jamais cometeriam um ato racista, pois racismo é crime, e crime é “coisa de preto”.


Este irônico texto foi criado apenas para ilustrar o racismo dissimulado na cultura brasileira, utilizando-se exageradamente de expressões racistas eternizadas nos ditos populares e expressões idiomáticas presentes em todo o país.

Segundo André Azevedo da Fonseca, nossa herança escravocrata persiste tão enraizada nos costumes que convém denunciá-la, especialmente nos locais onde ela se apresenta sem dizer o nome. O raciocínio racista, quando formulado de forma cordial, com sorrisos simpáticos, torna-se particularmente perigoso, pois domestica a rebeldia, amansa a indignação e enraíza ainda mais essa mentalidade no espírito coletivo.

Para entender como essas expressões e ditos populares podem servir de canal para impregnar na cultura o preconceito racial, é preciso conhecer o significado de cada uma delas.

“A coisa ta preta”: Dito popular, que significa que algo não vai bem.
“Serviço de preto”: Serviço malfeito.
“Nas coxas”:Esse termo deriva dos tempos da escravidão, onde os escravos moldavam as telhas das casas nas coxas, assim não conseguiam que saíssem perfeitamente iguais, o que causava goteiras nas casas, quando chovia. Dai o termo FAZER NAS COXAS...significa fazer mal feito.
“Quem mandou”: A expressão é um misto de paternalismo patológico com certa mentalidade escravocrata.Se alguém tivesse "mandado fazer", teria dado certo.
“Dia de preto”: Dia de pegar no pesado.
“Pretos de alma branca”: O negro “preto de alma branca” é tolerado, é uma exceção pois nega sua própria alma e aceita a superioridade do branco.

Esses são apenas alguns exemplos das inúmeras palavras que são utilizadas por tantos brasileiros que dizem não serem racistas, mas que trazem o racismo impregnado na própria fala.

E para finalizar, deixo aqui um trecho da música “Racismo é burrice” de Gabriel, O pensador:

...Racismo é burrice
O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não pára pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo de racismo - se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo que é racista não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
Racismo é burrice
E se você é mais um burro, não me leve a mal
É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você...

Jerlaine Matos

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Instalações

Em síntese, instalação artística é um gênero artístico que se utiliza de elementos tri-dimensionais dispostos de modo a transformar um determinado espaço e causar dessa maneira uma reação no espectador, como o desafiando a realizar associações complexas, despertar pensamentos, desejos, mudanças de humor, sensações ou simplesmente chamar a atenção. Os objetos são arranjados de várias maneiras, geralmente o autor os coloca fora de seus contextos originais, para destaque e para provocar quem está no ambiente.
Não existem restrições em relação aos materiais que podem ser utilizados, visto que o interesse do autor é no que determinado objeto evoca. Desse modo podemos observar os mais variados tipos de obras de instalação.



Essa incrível obra de instalação foi feita por uma escultora colombiana para a Bienal Internacional de Istambul, em 2003. Ela utilizou mais de 1,550 cadeiras empilhadas em um espaço vazio entre dois edifícios.

O impacto da arte de instalação em cada espectador varia já que, enquanto observa, cada um avalia, faz associações e recorre a lembranças que tenham um significado para sí próprio. Todas as crenças culturais, pensamentos e preconceitos que possuímos são levadas para tais ambientes e nos influenciam a obter o significado da obra. Ou seja, esse gênero artístico dá importância para a inclusão do observador ativo, que tira suas próprias conclusões.
Agora, na opinião de quem vos escreve este texto, alguns casos extrapolam os limites do aceitável, sob o pretexto de transferir a interpretação para o observador o autor faz qualquer ajuntamento de objetos que formam uma zorra. Gostaria de saber a opinião de vocês a respeito disso.



Para parodiar a decadência de uma famosa empresa telefônica inglesa (London Telephone Booths). O infame artista de guerrilha Banksy colocou um machado através de uma cabine.

CARLOS NOGUEIRA

Performances

A performance vai além de uma modalidade artística interdisciplinar caracterizada pelo contexto do uso do corpo explicitamente como modo de expressão e objeto da arte, pois aqui não há uma distância real entre a obra e seu criador. Em geral as performances são feitas seguindo um roteiro que é elaborado previamente, seu objetivo principal é causar uma impressão ou pelo menos levar àqueles que assistem a parar para pensar sobre aquilo que viram, em tempo real ou por registro fotográfico e audiovisual. Quanto a exploração do corpo, existe uma categoria chamada body art que dentro do universo das performances é aquela onde o corpo está em primeiro plano e é o próprio a ser explorado, é através dele que o artista consegue levar seus ideiais ao público, sendo que muitas vezes eles são de cárater extremamente sensoriais e em alguns desses até masoquistas. Muitas pessoas ligam performances aos chamados happenings, mas uma característica que diferencia bastante é que no primeiro há menor participação dos espectadores, mas não há uma regra rígida a respeito disso, sendo que em alguns casos isso torna-se algo comum a ambos. Como um estilo contemporâneo de arte, as performances vêm trazer um novo modo de construção artística em que ela seja voltada para as 'coisas do mundo', ou seja, aquilo com que temos contato diariamente, mas que inseridas em um novo espaço ou trabalhadas de forma inabitual venham a chocar ou prender a nossa atenção, mesmo que seja apenas por um momento. O que muitas vezes parece simplesmente algo sem lógica ou fruto de uma noção distorcida de arte é uma tentativa gritante de buscar um novo olhar para aquilo que é real e que parece ser inexplicável a nós que observamos, chocando-nos e levando a pensar sobre o objetivo do performista. Não é pra ser agradável e sim para ser visto.

Postado por Marlus Alberto

sábado, 10 de abril de 2010

Rosangela Rennó e Fernanda Magalhães


“Sempre me preocupei com o uso social da imagem [...] Gosto de lidar com esse material, porque me fala da vida cotidiana, do indivíduo e do ser humano.
Trata-se de uma questão de atribuição de valor e meu trabalho sempre começa pelo questionamento da atribuição de valor.”

Rosângela Rennó: depoimento. Coleção Circuito Atelier.


Rosângela Rennó, artista plástica brasileira, mineira, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro, conhecida internacionalmente, tem uma carreira genial, carregada de prêmios, criatividade, inovações, criações. Quando se fala dela, se remete aos desdobramentos da fotografia e suas particularidades. Fotografias inusitadas, diferentes, muitas vezes aquelas que nem seriam aproveitadas, como ela mesma diz, mas que são parte da cultura, da memória e identidade.
            Trabalha também com fotografias guardadas de jornais, fotografias familiares, 3x4 de estúdios populares, arquivos públicos ou privados, restauradas. Sua visão é a imagem das pessoas, aquilo que está por dentro, por trás, aquilo que não é explorado, histórias pessoais que se tornaram públicas, recordações, identidades, abordando sempre a questão da técnica e teoria da fotografia em si, mesclando com a história do tempo, passado ou atual.
            Em seu acervo, consta um repertorio de exposições coletivas e individuais, caracterizadas pelo seu olhar, e absorvidas pelo nosso olhar atento e curioso pela próxima exposição da artista. Aborda sempre questões diferentes entre um espaço e outro, entre um período e outro.
            Dentro da nossa pesquisa por Rennó, gostei particularmente das obras conjuntas de 43 fotógrafos convidados por ela, que retratam o Cristo Redentor por um ângulo desconhecido, através de câmeras antigas, que marcaram exatamente a ultima foto, como ficou conhecida a sua exposição.
            A ultima foto traz em suas impressões a memória da própria fotografia, com um tom moderno e contemporâneo, criando e reinventando um jeito de sair do comum. As imagens do Cristo e sua criadora, a câmera, assim ficaram na exposição.  





















Uma obra que pode ser considerada incomum entre nós, é a Experiência de Cinema, tão interessante quanto A ultima foto. Na verdade, são projeções de cenas sobre cortinas de fumaças, 31 fotos no total, com temas como romance, guerra, família e crimes.
            Cortinas de fumaças é na realidade a sensação das cenas se esvaecendo, sumindo no espaço, apagando. Como Rosangela Rennó sempre acaba por remeter seus trabalhos à temporalidade das coisas, uma homenagem aos ilusionistas e criadores da imagem em movimento foi feita através desta exposição. O projeto foi concebido como um experimento de arqueologia do cinema, se reportando às primeiras experiências da viagem da imagem.






 

Matéria de Poesia (Título de um poema de Manoel Barros e homenagem ao próprio poeta) corresponde à outra exposição de Rennó, retomando diretamente a obra do poeta, distribuídas em 21 imagens em slides.
            Rennó explora em suas obras as lembranças, afirmando que é mais fácil tentar reinventar, recriar e transmitir as memórias que tê-las de volta, que ter a sensação de que foi vivido, aquele sentimento presente de certo momento é complicado de trazê-lo há outro tempo, mas através de suas fotografias, através de suas obras, ao contextualizar cenas do passado com outro ângulo, acaba por contar historias também.           Ao expor imagens dos desaparecidos e anônimos, nos remete ao passado de subordinações e sem expressões, sem liberdade.
            Outro marco de suas produções fotográficas é a tendência a extrapolar o espaço bidimensional, plano e objetivo, expandindo a fotografia para o campo da tridimensionalidade, para as salas expositivas e produção de objetos.
            Para finalizar e resumir o que Rosangela Rennó representa para a arte, com todo o repertorio de obras criadas e expostas, caracteriza-se no mundo contemporâneo, abordando o passado, dando identidades e às vezes “rostos” aos personagens que aqui viveram.             Apesar de ainda em começo de sua carreira, ter usado também de suas lembranças e valores infantis, como a Série Alice, com oito fotos apenas.













FERNANDA MAGALHÃES


Graduada em artes visuais na UEL, onde hoje é professora e chefe da divisão de artes plásticas da casa de cultura, especializou-se em fotografia, além de ser doutora em artes pela Unicamp.
Ficou reconhecida após ganhar o Prêmio Marc Ferrez de fotografia do Ministério da Cultura/FUNARTE pelo projeto: “A Representação da Mulher Gorda Nua na Fotografia.”
Em seus trabalhos é constante a presença da rebeldia, questionando e afrontando os padrões de beleza e “normalidade” impostos na sociedade. A artista denuncia certos preconceitos promove uma imagem positiva da mulher obesa, que também é feliz e humana. As minorias como, homossexuais, deficientes, entre outros também são preocupações de Fernanda.
Através de sua produção, a artista participa criticamente
de debates no Brasil e no exterior, para discutir difíceis problemas sociais e
individuais, como a obesidade, a anorexia e a autoestima.
No projeto A Representação da Mulher Gorda Nua na Fotografia, ela expões corpos de mulheres gordas em formas sensuais.

Em alguns momentos é o próprio corpo da artista que está representado em fotografia, ela exclui o seu rosto e mostra o seu corpo, assim ressalta o preconceito que sofre e mostra que não é um problema sofrido só por ela, mas por várias mulheres.


Seu objetivo não é a defesa de pessoas obesas, e sim desconstruir as imagens que serve de base para ações preconceituosas e desrespeitosa.

Ela possui um blog sempre atualizado, para conhecer mais o seus projetos basta acessá-lo: http://fermaga.blogspot.com/



 

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Prazeres Entre Ser-Tões


                                                   Gabrielle D'estress


Olá queridas e queridos,


Aproveitando minha formação em publicidade vou usar esta mídia espontânea e fazer um convite a tod@s!

O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade da UFG, Ser-Tão, inicia, na terça-feira, 13 de abril, o projeto “Prazeres entre Ser-Tões”. A iniciativa pretende reunir e agregar pesquisadoras e pesquisadores que desenvolvam investigações próximas aos universos de gêneros e sexualidades.

Os encontros serão mensais e contarão com apresentação de duas pesquisas, a serem definidas em cada encontro. “Prazeres” é aberto a todas e todos interessados, vinculados ou não às instituições de ensino superior. É um espaço de encontros, articulações e reflexões,  mais ainda, um local que se propõe a agregar e intercambiar os inúmeros conhecimentos produzidos na comunidade.

O projeto prevê a criação de um grupo de estudos e a vigência de suas atividades será ao longo de um ano.

Todas as atividades são abertas ao público e têm entrada gratuita. A participação será atestada pela emissão de certificados. O local: sala 29 das Faculdades de Ciências Sociais (FCS), História (FH) e Filosofia (FAFIL).

Atualmente o Ser-Tão desenvolve as pesquisas “Políticas Públicas para a População LGBT: um mapeamento crítico preliminar” (Financiada pela SEDH da Presidência da República) e “Movimentos sociais, direitos humanos e cidadania: um estudo sobre o movimento LGBT em Goiás” (FAPEG). O núcleo se reúne às terças-feiras, intercalando com esta atividade. Mais informações no site www.sertao.ufg.br

Programação Primeiro Encontro

13 de abril, terça-feira, 18:30 horas


Sacrilégios Sexuais: Pornografia com corpos não hegemônicos
- Fernando Ribeiro Matos, mestrando em Comunicação (Mídia e Cultura) pela Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da UFG.


Invasivos... Quase intocáveis: Nazareth Pacheco e o corpo doente na arte
- Vinicios Kabral Ribeiro, mestrando em Cultura Visual (História, Teoria e Crítica da Arte e da Imagem) pela Faculdade de Artes Visuais da UFG.

Aids, Mídia, Sexo e Morte






Na obra de Josi Anne Paz, intitulada “AIDS anunciada”, a autora analisa as maneiras como o veículo publicidade, que flerta com o ambíguo, com o poético e os falseamentos da imagem e da arte passa a anunciar e veicular discursos sobre a doença. A publicidade tornou-se uma das marcas da sociedade de consumidores e uma das faces mais visíveis do consumismo, incentivadora da felicidade comprada e da compra, do prazer não só em possuir, mas possuir e descartar para possuir de novo. Então, eis que surgem as campanhas sobre a Aids. Onde era pregada a liberdade absoluta de possuir, de se satisfazer, de prazer e de delírio, de repente, pede para que se tenha sobriedade.
Anne Paz aponta que mesmo negando a si mesma, como no caso das propagandas de cigarro, onde se alerta para a sedução dos anúncios, a publicidade mantém sua estetização e dessa forma sua ética fundamental, relacionada com o “vender” e suas táticas. Essas táticas incluem, por exemplo, o humor, tendência da publicidade na década de noventa e incluída nas campanhas do Ministério da Saúde. Daí Anne Paz dizer que a Aids não é anunciável, “não cabem em um briefing”, que é mais complexa.
Na obra de Anne Paz há referência à obra de Jean Baudrillard, onde este coloca o público indiferente e fadigado diante dos anúncios, daí Paz apontar que os anúncios de produtos se equivaleriam aos das campanhas da Aids. Também dele Paz cita “A sexualidade como doença transmissível”, onde a banalização da sexualidade teria levado a uma indiferença em relação ao próximo, e a Aids seria um sintoma (vias obscuras) dessa desafeição sexual e indiferença em relação ao outro: “os sexos não se tocam mais, não roçam mais, não buscam seduzir-se” (Baudrillard).
Para não deixar o post extenso, e os leitores cansados (se já não estiverem), finalizo com duas provocações fundadas em dois autores utilizados por Paz: Michel Foucault e Jean Baudrillard.
A primeira é o controle da Aids como controle do corpo. A veiculação constante, essa necessidade de permanente exposição na mídia, pode ser entendida como uma espécie de panoptismo, ao modo descrito por Michel Foucault em “Vigiar e Punir”, uma forma de disciplinar e docilizar corpos. Ao veicular constantemente os anúncios espera-se que o indivíduo interiorize a mensagem, aja de acordo com o que é prescrito e que passe inclusive a vigiar a si próprio, em casos de ter apresentado comportamento de risco. Desse modo “inscreve em si a relação de poder na qual desempenha simultaneamente os dois papéis; torna-se o princípio de sua própria sujeição”. O que vemos é que a Aids se torna como diz Antônio Fausto Neto em “Comunicação e Mídia impressa” um fenômeno além do biológico, passa a ser um fenômeno discursivo de onde emana uma pluralidade de discursos institucionais. Como diz Foucault “a relação de cada um com sua doença e sua morte passa pelas instâncias do poder, pelo registro que delas é feito, pelas decisões que elas tomam”.
A segunda é a interdição da morte pelo estado. A interdição da morte é a proibição de morrer. Jean Baudrillard discorre sobre essa interdição na obra “A troca simbólica e a morte”, e aponta o controle da morte dos sujeitos como fonte de poder. A morte passa a ser anormal, já que passa a ser computada como capital de vida, e se necessita de um acúmulo progressivo. O próprio fato de o doente ser levado ao hospital para morrer, de não compartilhar sua morte, a torna um escândalo, e como diz Baudrillard, pornográfica. Dessa forma a vida é encarada como que em um contrato, onde esperaríamos o cumprimento de todo o percurso “normal” e que qualquer desvio seria uma sabotagem. A proibição por parte do estado da morte se dá pela necessidade do trabalho (lucro). Por isso a necessidade da proteção; A proteção (segurança) seria como o celofane por cima do bife: “cercar-nos de um sarcófago para impedir-nos de morrer”. Por isso as campanhas contra acidentes, epidemias, etc. apresentam resultados insatisfatórios. Os indivíduos se vêem privados de sua própria morte, de sua responsabilidade, e agiriam por instinto de preservação, desobedecendo às ordens que recebe sobre como conduzir sua própria existência e reagindo a obrigação de continuar vivo.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Mundo gay



O que The Strokes, Madonna, New Kids On The Block, Cristina Aguilera, T.A.T.U. tem em comum? Esta pergunta pode ser respondida com o documentário Totally Gay!, filme feito pelo canal de televisão estadunidense VH1* (www.vh1.com), que é direcionado ao público homossexual.

Este vídeo de duração de aproximadamente de 45 (quarenta e cinco) minutos aborda como o universo referente ao mundo LGBT afetou a sociedade ocidental em geral. Umas das primeiras falas é de uma mulher, remetendo-se a confusão de gêneros: “Não se sabe quem é gay, quem é hetero”. Isso porque o conceito construído em arquétipos nas performances e características do homem heterossexual não tem mais sentido de pertença ao mesmo, visão esta que se esclarece no documentário.

O filme aborda a tendência da queer art, um movimento artístico que aborda de forma direta e indireta questões relacionadas à homossexualidade, substancialmente nos campos da música, sendo a principal articuladora o canal direcionado ao público jovem, a MTV; do cinema, com a abertura de abordagens a temáticas homossexuais, atendendo a uma demanda não-conservadora; dos seriados, sendo muito lembrada a série Queer as Folk, que resumindo brevemente, mostra as aventuras sexuais entre homens que exibem corpos em padrões estéticos fortemente eróticos.

A expressão dos desejos de um público homossexual na mídia não se direcionou e restringiu ao próprio eixo articulado pelo grupo LGBT, pois, isso também ajudou, por exemplo, na libertação da libido da mulher. Ou seja, um mercado que, predominantemente, atendia os anseios eróticos do público hetero masculino, com a inserção da demanda homossexual, passou a suprir as ânsias desse mercado e das mulheres heterossexuais, que não apelavam por direitos ao consumo de contéudos explícitamente sensuais, dentre eles, o nudismo masculino.

Porém, não são só flores que o filme retrata. Casos de homofobia são relatados, que levados ao extremo, incidiu na morte de indivíduos gays por eles simplesmente assumirem a sua orientação sexual. E também o próprio ato de reivindicar a expressão do queer nas artes, na mídia, se deve pelo enorme surgimento de indivíduos com Aids no anos 80 e que era atribuído aos grupos homossexuais. Estes, então, tiveram que se articular politicamente para unirem forças contra a Igreja e o Estado e lutarem pelos seus direitos.

O documentário Totally Gay! mostra, dessa forma, a homossexualidade nos Estados Unidos em várias faces de forma não-estigmatizada, onde homens e mulheres heteros articulam-se com a cultura gay. O metrossexual é comentado, conhecido por ser a representação do tipo másculo heterossexual preocupado em cultivar em si a imagem do padrão de beleza disseminado pelos homossexuais e que atende o gosto do público feminino quanto ao corpo. Além da valorização da sexualidade explícita, a sensibilidade ganhou seu espaço no perfil psicológico masculino, onde o homem chucro perde espaço, nas preferências femininas, para aqueles que tem maior tato nos interrelacionamentos afetivos. 

Alguns já devem ter ouvido essa frase: “O mundo é gay e você não sabe”. Ao assistirmos o documentário, vemos a evidência do consumo por grande parte da sociedade em interação com a cultura gay. Assim, a consequência do entendimento desse saber nos leva a tecer um tratamento mais humanista e mais valorativo o próprio ser humano independentemente da orientação sexual que ele siga.


*Este site também tem filial brasileira: http://vh1brasil.uol.com.br/

por Marielle Sant’Ana

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um casal nada convencional


Semana passada, durante uma aula de Comunicação e Cidadania, da qual nem todos os alunos de Comunicação, Corpo e Consumo fazem parte, assisti um documentário apresentado pelo nosso professor. "Amanda e Monick" (dirigido por André da Costa) conta a história de dois (duas?) travestis, que antes se chamavam Artur e Hernando, mas que se descobriram gays, e logo depois travestis, bem cedo. O interessante do documentário são as diferenças entre as duas, a confusão que fica na cabeça da maioria das pessoas quando o assunto são elas (eles?), e como a população de uma cidadezinha do interior nordestino, com pouco mais de 6000 habitantes pode ensinar uma lição de cidadania.

Amanda, antes Artur Marculino Gomes, se assumiu aos 19 anos, e contou com o apoio do pai, Sílvio Gomes, um homem que, apesar de ter crescido em uma cidade pequena e tradicional, se mostrou bastante compreensivo em relação à opção do filho. Amanda não teve o destino que a maioria dos travestis têm: ela, que sempre se refere a si própria no masculino ("eu estava confuso"), é professora de História em uma escola de sua cidade. O interessante é observar que Amanda usa roupas "discretas", cores mais fechadas, calças compridas e poucos decotes, e é bastante profissional na sala de aula. Tudo isso fez com que ela agradasse tanto os pais quanto os alunos. A lição de cidadania de Capibaribe está aí, quando esses pais e alunos enxergam nela a professora (que eles chamam de professor), e não o travesti.

Já Monick trilha uma história bem diferente da de Amanda, mas muito mais comum entre os travestis. Hernando Porfírio da Silva virou Monick Mashahara aos 17 anos, e logo em seguida entrou para o ramo da prostituição, segundo ela própria, "por que precisa, mas também porque gosta". O curioso de Monick é que ela é sim um clichê ambulante: é o travesti que tem traços masculinos fortes, que usa roupas curtas, apertadas e bastante chamativas, que se prostitui como meio de vida, e que escolheu como nome de mulher o nome mais chamativo que conseguiu pensar. Nem por isso ela deve ser tratada diferentemente de como Amanda é tratada por seus alunos e colegas professores. A surpresa de Monick fica por conta de Nilda, uma mulher, claramente lésbica, que é quase um travesti masculino devido à sua aparência (cabelos curtos, roupas masculinas, um bigodinho no rosto e a voz o mais grossa possível), que está grávida de Monick. Ou, devo dizer, de Hernando?

Simone Spoladore e Igor Cotrim nos papéis de Elvis e Madona

A temática da relação entre uma mulher lésbica que gosta de se vestir de homem e um homem travesti que se veste como mulher foi abordada recentemente no filme nacional "Elvis e Madona". Realidade e ficção trazem à tona uma questão: como vai crescer essa criança? Quais serão os referenciais dela? Ser um travesti tira a capacidade de alguém de ser um bom pai e ensinar bons valores a uma criança?

Deixo para vocês um link onde o documentário pode ser baixado (aqui!). Desafio vocês a verem e darem sua opinião. E encerro com a frase egraçada, confusa e muito real de Monick sobre a criança:

"Eu brinco que a Nilda vai ser o pai e eu vou ser a mãe!"

O mercado GLS no Brasil

  
 
O mercado GLS ainda é tímido no Brasil, mas vem se mostrando um mercado com excelente potencial. Há algumas décadas, os gays eram mal tratados em estabelecimentos comerciais, e sofriam um preconceito escancarado pela comunidade de maneira geral. Hoje, são vistos como um ótimo público alvo pelas empresas, por muita das vezes serem consumidores exigentes e dispostos a pagarem bem por um bom produto ou serviço.
O perfil dos membros da comunidade GLBT (que vem crescendo e já é de cerca de 20 milhões de brasileiros) é atraente para empresas por vários motivos. Muitos têm alto nível de escolaridade e poder aquisitivo e geralmente formam casais sem filhos. Além disso, por serem carentes de mercado exclusivo, podem ser considerados um público mais suscetível a fidelização caso uma empresa demonstre ser livre de preconceitos e atenta as exigências do segmento.
Apesar de ainda pequeno, o investimento das empresas nesse setor vem aumentando. O setor de Marketing das empresas brasileiras começaram a entender como esse mercado pode ser vantajoso, e começaram a agir buscando vincular suas marcas a consciência “Gay-Friendly”, que já faz parte do vocabulário de grandes empresas como a Coca-Cola, Apple e IBM. Ser “Gay-Friendly” quer dizer adotar políticas voltadas ao público gay, acrescentando, por exemplo, gays e lésbicas em qualquer tipo de propaganda da empresa, e não apenas nas campanhas voltadas aos mesmos.
O grande problema, entretanto, é justamente a falta de informação e preparação das empresas. Muitas delas não entendem que o público GLS possui diferentes nichos e particularidades, e por isso diferentes preferências. Além disso, observa-se uma falta de capacitação dos funcionários para atender esse público, que obviamente se sente ofendido quando sofre repudia ou manifestações adversas ao serem abordados nas lojas.
     O preconceito enraizado na população brasileira também é um grande empecilho. As empresas ainda têm receio de que se colocarem uma marca no mercado gay poderão perder seus clientes heterossexuais. Além disso, a sociedade criou um mito para este segmento, como se resumisse o público GLS ao bem sucedido, divertido e bem-vindos em todo lugar. Dessa maneira, o público de baixa-renda e os travestis são descartados do mercado. Esta é uma atitude claramente contraditória e errada por parte de quem quer criar uma boa imagem perante esse público.
     Resumindo, o que o público GLS quer é um tratamento normal, de qualidade, e principalmente, livre de preconceitos.


por Bruno Vieira