quinta-feira, 11 de março de 2010

SURPLUS



O documentário sueco Surplus, dirigido por Erik Gandini é mais um documentário alertando sobre o trágico futuro que a humanidade terá, caso continue se desenvolvendo e consumindo freneticamente sem se preocupar com as consequências disso. No entanto, consegue levar essa linha batida de forma bem humorada, contrapondo o discurso capitalista ao socialista, nos mostrando que ambos os regimes econômicos são duas formas falidas.

Para realizar o documentário o diretor viajou cerca de 3 anos, passando por países como Estados Unidos, Cuba e Índia. Gandini quer levar o espectador a uma reflexão sobre o consumismo desenfreado, sobre o terror do consumo no qual – segundo ele – vivemos.  Ele afirma que a nossa liberdade está limitada a apenas escolher entre as marcas: Vai levar A, B ou C? Não temos o direito de não escolher.


O desejo é o combustível do consumo. Um desejo sexual, por exemplo, pode levar às pessoas desembolsarem cerca de 7 mil dólares para adquirir a boneca do amor. É o cliente que escolhe cada detalhe da boneca, desde o tipo de corpo e tamanho dos seios, à cor do cabelo e tamanho do “orifício”, como é mostrado no documentário. Então, é aqui que me pergunto, até onde isso é um consumo saudável? Até onde vai a reificação de corpos?

Comprar um corpo para fazer sexo parece estampar que o subjetivo está dando lugar ao objeto e que as relações sociais e afetivas estão se perdendo nesse trajeto. O corpo parece estar desvinculado da mente, é apenas um emaranhando de células que juntas criam um formato que provoca tesão. E o sentimento? E as relações? De onde eu venho, as pessoas encontram parceiros sexuais no trabalho, na faculdade, nas festas e bares... elas precisam sair e interagir. Agora já podemos comprar um parceiro sexual e depois de usá-lo o próximo passo é guardá-lo no armário. Os fabricantes garantem que o tato é praticamente o mesmo e, além do mais, não é preciso se preocupar se o seu parceiro gozou ou não.

Mas e se isso não passar de um fetiche? Talvez minha miopia social tenha se agravado. Mas não vejo como um problema o fato de uma pessoa adquirir uma “boneca do amor” para brincar enquanto estiver sozinha - desde que essa pessoa não resuma a sua vida a ficar sozinha, claro.

Afinal, esse questionamento surgiu após eu ver o documentário. Documentário o qual segue a linha de pensamento de um anarquista chamado John Zerzan, que  demoniza o consumo e as novas tecnologias. Intrigante mesmo é pensar que Surplus ganhou a projeção que tem graças à internet – uma nova tecnologia.

[por Gláucia França - Relações Públicas, 7º período]

6 comentários:

  1. Fiquei impressionada com o documentário. Não tinha nem noção que essa indústria de bonecos existia e fiquei mais chocada ainda como as pessoas que a fazem, tratam isso de uma forma normal. "Comprar um corpo para fazer sexo parece estampar que o subjetivo está dando lugar ao objeto e que as relações sociais e afetivas estão se perdendo nesse trajeto" Acho que é exatamente isso que está acontecendo. :*

    ResponderExcluir
  2. Não assisti o documentário na integra, mas assisti algumas partes no Youtube. O que me chamou a atenção foi o seu formato que se assemelha a um vídeo-clipe com músicas e cenas envolventes que enchem os ouvidos e os olhos de seus espectadores com uma forte critica ao capitalismo esmagador americano e ao socialismo decadente de Cuba. Quanto à “boneca do amor”, não vejo como um problema desde que a pessoa não dedique sua vida sexual somente a ela. Entretanto, muitos irão se apaixonar por elas, afinal estas bonecas de silicone são feitas com técnicas hollywoodianas e certamente “fazem mais gostoso” que muita mulher por aí, além do mais, não ligam no dia seguinte.

    ResponderExcluir
  3. É engraçado analisar as bonecas do amor porque elas são feitas à imagem e semelhança de mulheres famosas tidas como "gostosas". O ideal estabelecido pelos compradores das bonecas é tão irreal, o padrão de beleza é tão inalcançável, que ele tem que comprar uma mulher "falsa" para se satisfazer. Daí vale a pena questionar até onde isso é saudável, porque por mais que ele tenha consciência de que aquilo é só uma boneca, quando ele estiver no mundo real a procura de uma mulher real, o que ele vai procurar?

    ResponderExcluir
  4. Acho que a facilidade de ter um boneco imitando o ser humano pode prejudicar as relações que esses consumidores tem com a sociedade. Ele perderá sua essência de de relacionar com as pessoas e criará um mundo particular.

    ResponderExcluir
  5. Gostei muito do documentario. Acho que a questao vai alem do objeto sexual substituindo o subjetivo. Eh exatamente o 'terror do consumo' que cada dia diminui mais a nossa relacao com o subjetivo, com as coisas simples da vida, com as problematicas sociais, e nos tranca no nosso mundo 'moderno' repleto de aparelhos que fazem por nos, e que nao precisamos nem sequer dar bom dia a eles. Apesar de ser bastante sonhadora essa teoria, ainda acredito que a luta engrandece a vitoria, e talves com essa pequena realizacao de conseguir pequenas coisas durante todo o tempo fizessem das pessoas mais felizes e realizadas.
    Escrito por uma consumidora praticamente compulsiva =D

    ResponderExcluir
  6. Impossível deixar de falar da 'boneca do amor'...Com certeza não se pode generalizar, mas acredito que o consumo desta mostra um dos pontos mais altos do egoísmo do ser humano:manter-se sozinho até mesmo nas relações sexuais. Tudo isso porque a boneca é mais 'gostosa', fica calada, você faz tudo que deseja com ela...Se essa moda pega e se ela torna acessível, a busca pelo parceiro ideal e REAL se tornará muito mais difícil!

    ResponderExcluir