quarta-feira, 21 de abril de 2010

A coisa tá preta!

(Espero que esse post não fique um “serviço de preto”, pois pesquisei bastante e não estou fazendo nada nas “coxas”).

Em plena quarta-feira, feriado, e eu aqui escrevendo no blog da turma, mas bem feito pra mim, “quem mandou” me inscrever na disciplina de comunicação, corpo e consumo. Enfim, como para mim todo dia é “dia de preto”, vamos ao que interessa.



O assunto é racismo e para deixar tudo “preto no branco”, vamos “esclarecer” algumas coisas. “Racismo é a teoria que afirma a superioridade de certas raças e nela assenta à defesa do direito de dominar ou mesmo suprimir as outras.”

Mas aqui no Brasil não existe racismo, somos todos iguais, e por aqui todo mundo respeita os negros, pois eles são verdadeiros “pretos de alma branca”. E os brancos todos de “sangue azul”, jamais cometeriam um ato racista, pois racismo é crime, e crime é “coisa de preto”.


Este irônico texto foi criado apenas para ilustrar o racismo dissimulado na cultura brasileira, utilizando-se exageradamente de expressões racistas eternizadas nos ditos populares e expressões idiomáticas presentes em todo o país.

Segundo André Azevedo da Fonseca, nossa herança escravocrata persiste tão enraizada nos costumes que convém denunciá-la, especialmente nos locais onde ela se apresenta sem dizer o nome. O raciocínio racista, quando formulado de forma cordial, com sorrisos simpáticos, torna-se particularmente perigoso, pois domestica a rebeldia, amansa a indignação e enraíza ainda mais essa mentalidade no espírito coletivo.

Para entender como essas expressões e ditos populares podem servir de canal para impregnar na cultura o preconceito racial, é preciso conhecer o significado de cada uma delas.

“A coisa ta preta”: Dito popular, que significa que algo não vai bem.
“Serviço de preto”: Serviço malfeito.
“Nas coxas”:Esse termo deriva dos tempos da escravidão, onde os escravos moldavam as telhas das casas nas coxas, assim não conseguiam que saíssem perfeitamente iguais, o que causava goteiras nas casas, quando chovia. Dai o termo FAZER NAS COXAS...significa fazer mal feito.
“Quem mandou”: A expressão é um misto de paternalismo patológico com certa mentalidade escravocrata.Se alguém tivesse "mandado fazer", teria dado certo.
“Dia de preto”: Dia de pegar no pesado.
“Pretos de alma branca”: O negro “preto de alma branca” é tolerado, é uma exceção pois nega sua própria alma e aceita a superioridade do branco.

Esses são apenas alguns exemplos das inúmeras palavras que são utilizadas por tantos brasileiros que dizem não serem racistas, mas que trazem o racismo impregnado na própria fala.

E para finalizar, deixo aqui um trecho da música “Racismo é burrice” de Gabriel, O pensador:

...Racismo é burrice
O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não pára pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo de racismo - se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo que é racista não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
Racismo é burrice
E se você é mais um burro, não me leve a mal
É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você...

Jerlaine Matos

9 comentários:

  1. A língua é um fenômeno social. Neste caso, podemos dizer que a nação brasileira carrega em sua língua, a portuguesa, raízes do preconceito racial.

    O termo "preconceito racial" foi introduzido por uma das primeiras escolas que visavam o estudo de uma ciência da comunicação: a Escola de Chicago.

    Mas a própria expressão 'raça' é fortemente criticada e está em desuso, inclusive na Antropologia, por causa dos estudos científicos no campo da genética. O uso deste termo biológico tem que ser desmistificado.

    Na espécie Homo sapiens - a espécie humana - a variabilidade genética representa 3 a 5% da variabilidade total, nos subgrupos continentais, o que caracteriza, definitivamente, a ausência de diferenciação genética. Logo, inexistem raças humanas do ponto de vista biológico.

    Então, o preconceito racial não é um preconceito de raça e sim de cor.

    Um discurso que justifique o preconceito de cor é um discurso que justifica a desumanização e discriminação do homem, apartheids.

    Lembremos, foi a partir de um discurso de eugenia que aconteceu o genocídio de 6 milhões de judeus em pleno século XX.

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  2. O preconceito racial é um fato. Não apenas no Brasil, no mundo. E não é só preconceito contra negro não. Nos EUA se vê claramente que os negros também têm preconceito contra os brancos. O preconceito é então, contra o diferente. É exatamente o mesmo caso dos homossexuais. Eles são diferentes da maioria dominante hétero, daí o preconceito.
    Os termos citados no texto da Jerlaine são ótimos exemplos do quanto esse preconceito está arraigado em nossa cultura. O termo "nas coxas", por exemplo, eu uso e nem sabia de onde vinha. Mas a explicação dada pela Marielle, de que a língua é um fenômeno social, explica bem isso.
    Ainda assim, gosto de ser positiva, de acreditar que ainda estamos longe de ter uma sociedade ideal, livre de preconceito mas que, dos tempos de escravidão no Brasil, até hoje, muito já foi melhorado. Claro que ainda existe muito mais a ser mudado mas, talvez, já estejamos, pelo menos, pegando o caminho certo.

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  3. meu deus que post grande! e os comentários tbm!
    e olha que eu achei que comentário grande fosse coisa minha!

    mas, grande ou não, textos sobre racismo devem ser feitos com mais frequencia. toda discussao sobre o assunto é bem-vinda, pois ele é de extrema importancia.

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  4. Como disse em sala de aula, as vezes usamos dessas palavras por fazerem parte do nosso vocabulário aprendido desde as primeiras palavras e isso não é qualificação para me tornar um racista. Sei que quando vivemos em sociedade precisamos ponderar que se essas mesmas palavras são usadas em detrimento de pessoas racistas, então algo deve ser feito. Mas até lá, como pelo menos por mim mesma, posso afirmar que preconceito racial é ridiculo e nao faz parte da minha concepção, continuarei chamando minha irmã de nigga e invejando toda aquela melanina que me falta! ;)

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  5. Gostei bastantee do texto... As causas raciais já vem sendo bastante discutidas. Talvez seja necessário mais ações e menos hipocrisia.

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  6. Concordo com a Danielly, é necessário que haja mais ações e menos hipocresia para combater o preconceito, sendo ele racial ou não. Qualquer ato de discriminação deve ser banido. 'Não faça com o outro aquilo que você não gostaria que fizesse com você'.

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  7. O legal é que o Gabriel Pensador é um cara branco, de classe média alta e falando sobre preconceito... no Brasil esse fenômeno é comum, desde o descobrimento. Quase sempre é alguém que não representa nenhuma minoria ou que não sofre preconceito falando de quem sofre, se "colocando no lugar" dessas minorias.
    Eu adoro essa música, e acho o Gabriel Pensador um ícone da música de protesto brasileira, mas não consigo deixar de pensar nessa representação as avessas de grupos que muitas vezes não tem voz para falarem abertamente sobre sí mesmos.

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  8. Este sem dúvida é um tema que merece não apenas um post grande mas váários posts...
    até o assunto mexer com as passoas a ponto delas se sentirem incomodadas e passarem a "refletir" sobre a sua importância( Como discutimos na última aula).

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  9. Gostei bastante do texto ironico inicial, e do texto sobre o racismo em si.
    Acho que analisar e debater sobre esse tema sempre é válido e nunca repetitivo como alguns possam pensar, pois cada vez debatamos e estudamos nós abrimos nossas cabeças e percebemos coisas que talvez não tenhamos notado anteriormente. Estes textos talvez nos torne "menos racistas".

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