terça-feira, 6 de abril de 2010

Mundo gay



O que The Strokes, Madonna, New Kids On The Block, Cristina Aguilera, T.A.T.U. tem em comum? Esta pergunta pode ser respondida com o documentário Totally Gay!, filme feito pelo canal de televisão estadunidense VH1* (www.vh1.com), que é direcionado ao público homossexual.

Este vídeo de duração de aproximadamente de 45 (quarenta e cinco) minutos aborda como o universo referente ao mundo LGBT afetou a sociedade ocidental em geral. Umas das primeiras falas é de uma mulher, remetendo-se a confusão de gêneros: “Não se sabe quem é gay, quem é hetero”. Isso porque o conceito construído em arquétipos nas performances e características do homem heterossexual não tem mais sentido de pertença ao mesmo, visão esta que se esclarece no documentário.

O filme aborda a tendência da queer art, um movimento artístico que aborda de forma direta e indireta questões relacionadas à homossexualidade, substancialmente nos campos da música, sendo a principal articuladora o canal direcionado ao público jovem, a MTV; do cinema, com a abertura de abordagens a temáticas homossexuais, atendendo a uma demanda não-conservadora; dos seriados, sendo muito lembrada a série Queer as Folk, que resumindo brevemente, mostra as aventuras sexuais entre homens que exibem corpos em padrões estéticos fortemente eróticos.

A expressão dos desejos de um público homossexual na mídia não se direcionou e restringiu ao próprio eixo articulado pelo grupo LGBT, pois, isso também ajudou, por exemplo, na libertação da libido da mulher. Ou seja, um mercado que, predominantemente, atendia os anseios eróticos do público hetero masculino, com a inserção da demanda homossexual, passou a suprir as ânsias desse mercado e das mulheres heterossexuais, que não apelavam por direitos ao consumo de contéudos explícitamente sensuais, dentre eles, o nudismo masculino.

Porém, não são só flores que o filme retrata. Casos de homofobia são relatados, que levados ao extremo, incidiu na morte de indivíduos gays por eles simplesmente assumirem a sua orientação sexual. E também o próprio ato de reivindicar a expressão do queer nas artes, na mídia, se deve pelo enorme surgimento de indivíduos com Aids no anos 80 e que era atribuído aos grupos homossexuais. Estes, então, tiveram que se articular politicamente para unirem forças contra a Igreja e o Estado e lutarem pelos seus direitos.

O documentário Totally Gay! mostra, dessa forma, a homossexualidade nos Estados Unidos em várias faces de forma não-estigmatizada, onde homens e mulheres heteros articulam-se com a cultura gay. O metrossexual é comentado, conhecido por ser a representação do tipo másculo heterossexual preocupado em cultivar em si a imagem do padrão de beleza disseminado pelos homossexuais e que atende o gosto do público feminino quanto ao corpo. Além da valorização da sexualidade explícita, a sensibilidade ganhou seu espaço no perfil psicológico masculino, onde o homem chucro perde espaço, nas preferências femininas, para aqueles que tem maior tato nos interrelacionamentos afetivos. 

Alguns já devem ter ouvido essa frase: “O mundo é gay e você não sabe”. Ao assistirmos o documentário, vemos a evidência do consumo por grande parte da sociedade em interação com a cultura gay. Assim, a consequência do entendimento desse saber nos leva a tecer um tratamento mais humanista e mais valorativo o próprio ser humano independentemente da orientação sexual que ele siga.


*Este site também tem filial brasileira: http://vh1brasil.uol.com.br/

por Marielle Sant’Ana

7 comentários:

  1. Só para comentar, o VH1 nao é um canal voltado para o público gay. Na verdade, ele é considerado um irmão mais velho da MTV, pois a idéia inicial era atrair o público acima dos 30 anos. Apresentar temáticas gays no conteúdo do canal é apenas uma parte da programação.

    E o que o documentário mostrou e, que eu entendi, quis mostrar, foi justamente esse lado dos americanos que convivem com os gays e de certa forma se identificam com o mundo deles, mas não tem coragem de admitir, e por isso recorrem ao entretenimento.

    Queer as Folk é uma série ótima, que durou cinco temporadas no canal Showtime, conhecido por sempre trazer polêmicas na sua programação (como o seriado Dexter, sobre um policial serial killer, e Weeds, sobre a mae de familia que sustenta os filhos vendendo maconha). O curioso é que dizem que a Inglaterra é um país mais liberal que os EUA, e QAF é uma série originalmente britância que não deu certo em Londres.

    E, terminando, quem quiser conferir a minissérie da HBO que o Vinícios falou em sala, Angels in America, aqui vai o trailer. No YouTube tem varias partes, e da pra baixar por torrent.

    http://www.youtube.com/watch?v=jTDcbJcCGTE
    http://thepiratebay.org/torrent/4424923/Angels_In_America

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  2. Pra mim o documentário é muito interessante principalmente em dois aspectos: o primeiro é de como a mídia pode criar e quebrar preconceitos. O poder dela é muito grande, assim como o poder dos ídolos criados por ela. Eles poder construir moral e ajudar na percepção de vida do indíviduo - isso fica bem claro quando a menina diz que muito do que sabe sobre sexo ela aprendeu na MTV.

    Outra coisa que reparei é como é diferente a abordagem da homossexualidade nos Estados Unidos e no Brasil. Se aqui temos medo de ver um beijo homossexual na novela, lá para eles já é natural - não choca. Talvez nesse sentido eles estejam anos a nossa frente, por finalmente tratarem o assunto com mais naturalidade.

    E, realmente, VH1 não é um canal voltado para o público gay.

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  3. Um documentário muito interessante e com um foco um pouco diferente do que já estamos acostumados. Essa abordagem feita por ele convida a quem o assiste a refletir um pouco sobre a questão dos homossexuais e a participação deles na sociedade.
    Talvez a população brasileira ainda não estivesse tão "preparada" quanto a americana para essa abordagem.

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  4. Achei a abordagem do vídeo muito bem colocada. Nenhuma cena muito chocante e ao mesmo tempo mostrando a vida que homossexuais levam, que é igual de todo mundo; porém, no vídeo eles se mostraram mais fortes por conseguir assumir o que são e que são felizes e que pessoas do mundo todo já estão quebrando esta barreira do preconceito.

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  5. Sobre o documentário, concordo com a Gabriela: a mídia tem o poder tanto de criar como de quebrar preconceitos.
    Achei bacana a abordagem de Totally Gay mas, o ritmo muito colorido e rápido do vídeo embaralha a visão. De qualquer forma, talvez isso tenha sido mesmo a intenção dos produtores para causar a impressão de que a gente se incomoda com o tema. Na verdade, estudo na Facomb, o tema não me surpreende, nem nada, apenas me cansei com o ritmo do documentário mesmo.
    Ainda assim, mostrar diferentes abordagens, artistas que se assumiram e que foram aceitos mesmo assim, ajuda a quebrar o preconceito, pelo menos ajuda a "abrir a mente" das pessoas o que, por si só, já é uma coisa bem legal.

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  6. O documentário, realmente, é muito bom. Mas não sei se a intenção deles era esclarecer um público heterossexual ou agradar o público homossexual. O público LGBT cada vez mais vem ganhando uma grande parcela de mercado (não estou referindo que está aumentando, mas sim que eles estão com uma representação significativa) e as organizações perceberam isso.

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  7. Só um comentário:
    Quando a sexualidade não for vista como um tema de interesse público e político é que teremos algum avanço.

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