sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um casal nada convencional


Semana passada, durante uma aula de Comunicação e Cidadania, da qual nem todos os alunos de Comunicação, Corpo e Consumo fazem parte, assisti um documentário apresentado pelo nosso professor. "Amanda e Monick" (dirigido por André da Costa) conta a história de dois (duas?) travestis, que antes se chamavam Artur e Hernando, mas que se descobriram gays, e logo depois travestis, bem cedo. O interessante do documentário são as diferenças entre as duas, a confusão que fica na cabeça da maioria das pessoas quando o assunto são elas (eles?), e como a população de uma cidadezinha do interior nordestino, com pouco mais de 6000 habitantes pode ensinar uma lição de cidadania.

Amanda, antes Artur Marculino Gomes, se assumiu aos 19 anos, e contou com o apoio do pai, Sílvio Gomes, um homem que, apesar de ter crescido em uma cidade pequena e tradicional, se mostrou bastante compreensivo em relação à opção do filho. Amanda não teve o destino que a maioria dos travestis têm: ela, que sempre se refere a si própria no masculino ("eu estava confuso"), é professora de História em uma escola de sua cidade. O interessante é observar que Amanda usa roupas "discretas", cores mais fechadas, calças compridas e poucos decotes, e é bastante profissional na sala de aula. Tudo isso fez com que ela agradasse tanto os pais quanto os alunos. A lição de cidadania de Capibaribe está aí, quando esses pais e alunos enxergam nela a professora (que eles chamam de professor), e não o travesti.

Já Monick trilha uma história bem diferente da de Amanda, mas muito mais comum entre os travestis. Hernando Porfírio da Silva virou Monick Mashahara aos 17 anos, e logo em seguida entrou para o ramo da prostituição, segundo ela própria, "por que precisa, mas também porque gosta". O curioso de Monick é que ela é sim um clichê ambulante: é o travesti que tem traços masculinos fortes, que usa roupas curtas, apertadas e bastante chamativas, que se prostitui como meio de vida, e que escolheu como nome de mulher o nome mais chamativo que conseguiu pensar. Nem por isso ela deve ser tratada diferentemente de como Amanda é tratada por seus alunos e colegas professores. A surpresa de Monick fica por conta de Nilda, uma mulher, claramente lésbica, que é quase um travesti masculino devido à sua aparência (cabelos curtos, roupas masculinas, um bigodinho no rosto e a voz o mais grossa possível), que está grávida de Monick. Ou, devo dizer, de Hernando?

Simone Spoladore e Igor Cotrim nos papéis de Elvis e Madona

A temática da relação entre uma mulher lésbica que gosta de se vestir de homem e um homem travesti que se veste como mulher foi abordada recentemente no filme nacional "Elvis e Madona". Realidade e ficção trazem à tona uma questão: como vai crescer essa criança? Quais serão os referenciais dela? Ser um travesti tira a capacidade de alguém de ser um bom pai e ensinar bons valores a uma criança?

Deixo para vocês um link onde o documentário pode ser baixado (aqui!). Desafio vocês a verem e darem sua opinião. E encerro com a frase egraçada, confusa e muito real de Monick sobre a criança:

"Eu brinco que a Nilda vai ser o pai e eu vou ser a mãe!"

8 comentários:

  1. Acho que é exatamente assim que vai ser, a Nilda o pai e a Monick, mãe. Com certeza, essa criança não vai ter as crenças nem os valores tradicionais, o que não é necessariamente ruim. Pode ser melhor, até. :D

    ResponderExcluir
  2. Que relação complexa!! rsrs Tudo isso é muito relativo, depende da postura de Monick e de Nilda. Talvez não fosse necessario criar "personagem" (pai e mãe). Mais tudo dependeria do objetivo desse casal quando quizeram ter filhos. Eu particularmente acho que o método "tradicional" com o qual já estamos acostumados tem mais possibilidades de dar "certo".

    ResponderExcluir
  3. Acho que essa criança possivelmente se desenvolverá sem nenhum problema, se for tratada pelos pais (?) com carinho e dedicação. Na verdade deve-se questionar e observar a sociedade: será que esta será capaz de respeitar essas particularidades? Será capaz de não gerar, para a criança, situações de constrangimento?

    ResponderExcluir
  4. Acho confuso pensar em como vai ser essa relação. Confuso não quer dizer pior ou melhor. Os pais tem que se dedicar muito à criação dessa criança (e quais pais não tem, né?), principalmente ensinando-a a lidar com um possível preconceito que, infelizmente, na nossa sociedade vai ser inevitável.
    Adorei o documentário principalmente por mostrar o apoio do Silvio ao filho, um homem criado numa cidadezinha com valores tradicionais conseguir transmitir o valor que uma compreensão pode ter.

    ResponderExcluir
  5. O documentário levanta uma questão que com certeza muita gente já deve ter imaginado.
    É dificil prever como vai ser a criação dessa criança, mas quanto mais os pais acreditarem que é sim possível educa-la de uma maneira normal, com muito amor e dedicação, melhor será para ela.
    Como foi dito, o preconceito será inevitável na vida dessa criança, e de seus pais, mas é algo que eles devem estar preparados para encarar.

    ResponderExcluir
  6. Acredito que passar valores a um filho, depende de uma coisinha: cárater. E isso não tem absolutamente nada a ver com a opção sexual da pessoa.
    Há travestis, gays e lésbicas sem nenhum caráter que vivem procurando "aparecer" mesmo. Mas há também heterossexuais que agem exatamente da mesma forma. O que prova que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
    Ainda que eu pense assim, na sociedade brasileira de hoje, é inegável que essa criança precisaria de um preparo emocional muito grande porque, com certeza iria sofrer preconceito. Mas aí, já é um problema da sociedade e não do caso entre homossexuais que gerou essa gravidez de fato.

    ResponderExcluir
  7. Definir papéis é bem delicado. A Monick no papel de mãe saberia explicar e vivenciar com uma filha quando a mesma chegar na fase adulta e menstruar? E qual dos dois iria na festinha de dia das mães na escola da criança? É complicado definir papéis, porque ainda hoje, em nossa sociedade, nomeamos todos, damos ordem hierárquica, e apartir disso assumimos um papel e atuaremos desta forma. Ainda falta muito para conseguirmos educar nossos filhos a partir de um caráter (como disse a angélica), a partir de sabedoria, amor. Silvio em seu papel de pai em uma pequena cidade não nos assustaria se tivesse expulsado Amanda de casa, mas, sendo uma raridade, deu um excelente exemplo de que podemos sim ser pessoas melhores e uma sociedade menos preconceituosa.
    E quanto aos filhos, acho que teremos que esperar essa geração crescer pra avaliar os resultados, como toda geração.

    ResponderExcluir