domingo, 16 de maio de 2010

Como mudar de sexo - uma reportagem literária

Gente, não sei se podemos postar fora de hora, mas li uma reportagem bastante interessante na Revista Piauí do mês passado, e acho que vale à pena compartilhar com vocês.

Clara Becker, estagiária da revista, fez a matéria "Como mudar de sexo - A vida, as angústias e as cirurgias que transexuais fazem com o doutor Eloísio Alexsandro num hospital público do Rio de Janeiro".

Ela passou um tempo acompanhando o médico, um dos maiores especialistas do ramo no país, e seus pacientes do Hospital Universitário Pedro Ernesto, e aborda o tema sob uma perspectiva diferenciada. Vale à pena a leitura.





Como mudar de sexo

A vida, as angústias e as cirugias que transexuais fazem com o doutor Eloísio Alexsandro num hospital público no Rio de Janeiro

Em uma manhã de fevereiro, um jovem estudante de letras de cabelos curtos, espinhas no rosto e vestido com roupas largas em estilo grunge, esperava ao lado da mãe a vez de ser atendido no ambulatório de urologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. M., como pediu para ser chamado, tem 22 anos, mas parece um adolescente. Seu jeito frágil e sereno contrastava com o da mulher, que parecia ansiosa e desconfortável por estar ali. Ao chegar, o médico Eloísio Alexsandro, chefe do ambulatório, sugeriu que conversassem em separado e pediu que ela entrasse primeiro no seu consultório.

Depois de algumas perguntas, a mãe lhe disse, com os olhos marejados: "Eu já li tudo na internet, doutor. Ela não é assim. Ela é virgem. Como alguém que nunca transou com homem nem com mulher pode saber se é transexual?" M., que nasceu e foi criada como menina, passava pelo primeiro estágio de um longo tratamento destinado a transexuais que, na maioria dos casos, acaba em uma cirurgia de mudança de sexo.

Um mês antes, M. tomara a primeira dose de testosterona, o hormônio responsável pelo desenvolvimento das características masculinas. Teve um surto de acnes no rosto e pelos grossos lhe brotaram nas pernas. A transformação definitiva apavorava a mãe. "Pelo que eu sei, transexuais jogam com os brinquedos do sexo oposto, e ela nunca fez isso", disse a senhora. "Como vocês abraçam a causa assim, doutor?"

Com um tom de voz seguro, o médico lhe disse que o processo de mudança de sexo era lento e progressivo. Assegurou que a maior parte das modificações hormonais era reversível. E disse que a cirurgia para mudar o aparelho genital - a parte do processo que mais assusta os familiares - ocorreria no final do tratamento, e só depois do aval de um psicólogo e um psiquiatra.

A mulher ainda parecia transtornada. O médico lhe disse que aceitar a "condição" de seu rebento seria uma prova de amor. "Eu tento, doutor, mas não consigo chamá-la pelo nome masculino", respondeu.

A longa jornada de M. incluirá uma série de injeções de testosterona, que farão com que a voz engrosse, a barba cresça e a sua agressividade aumente. A menstruação cessará e as mamas, que hoje são esmagadas por faixas apertadas, serão extirpadas cirurgicamente. Outra operação plástica dará um contorno mais masculino ao peitoral, delimitando o tórax. Se M. quiser, também poderá fazer uma histerectomia e terá seu útero, ovários e trompas removidos.

Ele terá duas alternativas quanto ao órgão sexual. Se responder bem à testosterona, seu clitóris poderá ter triplicado de tamanho e, eventualmente, funcionará como uma espécie de micropênis. Daí, bastará costurar os grandes lábios para formar um escroto na sua base.

A outra hipótese é uma neofaloplastia, procedimento cirúrgico no qual um pênis é construído a partir de um tecido sensível retirado do próprio corpo, como o antebraço. Ainda assim, não há garantia de que a aparência e o funcionamento do novo órgão serão razoáveis. Como o procedimento é experimental, o paciente precisa concordar com o risco.

Na sala de Eloísio Alexsandro no Hospital Pedro Ernesto, em meio a tubos de ensaio, jalecos, pilhas de livros e computadores, um quadro na parede chama a atenção. É uma reprodução de A Mulher Barbuda, tela pintada em 1631 pelo espanhol José de Ribera, que fez carreira na Itália. Ela mostra uma mulher de feições severas, nariz largo, olhos escuros e barba negra à Rasputin, amamentando uma criança. Ao seu lado, está o marido, também barbado. A senhora barbuda seria Magdalena Ventura de los Abruzos, a quem o duque de Alcalá, vice-rei de Nápoles, teria encarregado Ribera de pintar o retrato. "Desconfio que ela tivesse um tumor benigno na glândula adrenal", disse Alexsandro, comentando a aparência masculinizada da figura.

O médico gasta tempo e dinheiro estudando história da arte médica, a disciplina que procura detectar patologias em pinturas e esculturas. Entre os iniciados no assunto, é praticamente consenso que a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, sofria de arteriosclerose. Alexsandro discorda: "É um diagnóstico leviano."

**O restante da reportagem está no link http://www.revistapiaui.com.br/edicao_43/artigo_1291/Como_mudar_de_sexo.aspx
Não acho muito legal copiar toda a matéria...

Créditos - Revista Piauí/Clara Becker


(Taynara Borges)

3 comentários:

  1. Muito interesante a matéria nos explicar exatamente como é o processo de mudança de sexo, em etapas. Eu mesma não conhecia exatamente como era.
    Mas o que mais me chamou a atenção foi a fala da mãe. É comum as pessoas, ainda hoje, acreditarem ser necessário "fazer o teste" antes de definir sua sexualidade. Eu não acredito nisso. Uma pessoa pode se descobrir transsexual ou homossexual mesmo sem nunca ter tido relações sexuais, como a personagem da reportagem.
    Mesmo sendo difícil para os pais lidarem com essa situação, principalmente pelos próprios preconceitos, além dos da sociedade, eles precisam entender (e é aí que entraria, novamente, uma boa orientação- talvez através de campanhas) que a opção sexual, quando bem definida, não muda. E que, na maioria absoluta dos casos, não vai adiantar dizer: "Não, meu filho, é uma fase, vai passar. você deve estar apenas confuso".

    ResponderExcluir
  2. De fato, a questão trans é tema delicado, de difícil compreensão e mesmo triste... mas depois que se passa por tudo, tudo mesmo (tratamento, cirurgias, Justiça)... a gente vê que valeu a pena... pois em última instância... todos queremos ser felizes... Ainda há muito preconceito inclusive na comunidade de orientação homosexual... o que no mínimo é lamentável... pois é "excluído dentro de excluído".... na verdade... eu rio muito quando homens gays hoje me dão cantadas (rs) .... e isso só me faz ver como no fundo podemos ser tão preconceituosos....

    ResponderExcluir
  3. HOLA A TDS QUERIDOS PRESNETES NESCESITO MUINTO QUALQUER TIPO DE CONTATO POR MSN TELEFONE DO DOUTOR HELOISIO ALEXSANDRO DO RIO DE JANERO PRESCISO MUINTO DE AJUDA DESDE JA AGRADEÇO A TDS OS QUE ESTAN AL PE DA INFORMAÇAO E QUE EU ESTOU PASSANDO MUINTO MAL NESCECITO AJUDA URGENTE POR FAVOR ME AJUDEN

    ResponderExcluir